sábado, 9 de janeiro de 2016

O Abolicionismo

NABUCO, J. O Abolicionismo. São Paulo: Publifolha, 2000. pp. 01-138.

A obra foi escrita em 1883, estando inserida, portanto, em um contexto bastante complexo e conturbado que se consubstanciaria – alguns anos mais tarde – no fim do Império e da escravidão. Nessa época, as influências das ideias racistas e darwinistas eram fortes no pensamento brasileiro. No entanto, o autor tenta demonstrar que a escravidão representa um atraso econômico para o Brasil, além de outras conclusões valiosas, e vai tentar neutralizar as teorias vigentes na época com base na realidade ou seu campo de visão, mas em sintonia com os preceitos liberais vigentes na Europa, por exemplo.
De modo geral, a obra representa um dos marcos do pensamento social brasileiro, pois articula uma visão totalizadora da formação histórica brasileira a partir do regime servil. Nela, estão contidos elementos de fundamental importância para a compreensão do Império, sobretudo da segunda metade do século XIX, bem como apontamentos fundamentais referentes à constituição da população brasileira, a qual o autor distingue como descendente dos escravos.
Assumidamente, a obra é uma propaganda abolicionista, no livro há uma série de denúncias, sobretudo contra políticos e a Igreja católica, que ao contrário de outros países, acabou por legitimar e contribuir para a manutenção do cativeiro. O autor inova ao colocar a escravidão como o aspecto central a ser resolvido. Para tanto, evidencia ser essa uma nódoa que degrada toda a nação, na medida em que está entranhada em toda a sociedade brasileira, que foi essencialmente estruturada tendo como base a escravidão. Ele vai mais longe e aponta como algo terrível a herança deixada pelos portugueses, trazendo consigo o atraso para o país e a visão negativa frente o trabalho. A escravidão, a princípio apareceria como algo positivo, mas com o passar dos anos ela traria prejuízos para o país, levando à bancarrota milhares de fazendeiros, que seriam empurrados para o funcionalismo público.
Vale lembrar que em finais do século XIX, o Brasil era representado, sobretudo pelos viajantes, como um “espetáculo de raças”, ou seja, uma nação multiétnica, que se destacava pela sua coloração mulata. Muitos intelectuais tendiam a utilizar a mestiçagem para explicar o atraso do Brasil e a inviabilidade da nação.
A ideia de um país degenerado pela mistura de raças terá grande força e expansão no período em que foi escrita a obra, porém o autor não se mostra adepto dessa visão, embora às
vezes se simpatize com o racismo. No capítulo denominado “Influências sociais e políticas da escravidão”, o autor já adianta a questão da mestiçagem, como característica típica do Brasil, elemento este que mais tarde será evidenciado por Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala.
A escravidão, ainda que fundada sobre a diferença das duas raças, nunca desenvolveu a prevenção da cor, e nisso foi infinitamente mais hábil. O contato entre aquelas, desde a colonização primitiva dos donatários até hoje, produziram uma população mestiça. Apesar de algumas controvérsias existentes acerca da obra, é inegável o fato dela ser referência no campo intelectual brasileiro, uma vez que o seu pensamento propunha, naquela época, uma nova visão de ver a escravidão.
Através da denúncia da escravidão como principal empecilho para o desenvolvimento, em termos econômicos e sociais principalmente, do Brasil e do apontamento das vantagens obtidas com o trabalho livre, o autor consegue evidenciar aspectos importantes da sociedade brasileira de então. Ele ultrapassa a questão do escravismo e levanta o tema da reforma agrária. O autor desenvolve a ideia de que a relação senhor/escravo era essencialmente violenta, oprimindo os cativos e colocando em perigo a sociedade inteira, pois inviabilizava o desenvolvimento da nação. É nesse sentido que ele inova e sistematiza uma série de elementos, tornando a obra um testemunho histórico importantíssimo para o estudo da sociedade brasileira de então, que tinha como pilar de sustentação principal a escravidão, ajudando a compreender as mazelas sociais, causadas pelo preconceito e pelo racismo, que até os dias atuais afligem a sociedade brasileira.

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