quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Os fins justificam os meios...

Maquiavel (QUIRINO, 2003)

Segundo Maquiavel, o início do conflito se concentra na história clássica em seu "diálogo" com os homens da antiguidade e suas práticas levam-no a concluir que por toda a parte e em todos os tempos, observa traços humanos imutáveis. Portanto, segundo Maquiavel, os homens são ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os perigos, ávidos por lucro. Essas atribuições negativas compõem a natureza humana e mostram que o conflito e anarquia são desdobramentos necessários dessas paixões e instintos malévolos; daí deve-se extrair as causas e os meios utilizados para enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana. Dessa forma Maquiavel sustenta o seu argumento que nessa variação encontra-se o âmago da capacidade criadora humana e, portanto, da política são os tempos de duração das formas de convívio entre os homens. O Poder político tem, pois, sua origem mundana, nasce da própria malignidade que é intrínseca à natureza humana, que constituem em avareza, ira e estupidez. Além disso, o Poder aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que qualquer forma de domesticação seja precária e transitória, não há garantias de sua permanência. A perversidade das paixões humanas sempre voltam a se manifestar, mesmo que tenham permanecidas ocultas durante algum tempo.


Maquiavel sugere que há basicamente duas respostas à anarquia decorrente da natureza humana e do confronto entre os grupos sociais: o principado e a república. Assim, quando o governo (nação) encontra-se ameaçado pela corrupção é necessário um governo forte, que crie instrumentos para restabelecer a ordem. O príncipe não é um ditador, é propriamente um fundador do Estado, que restabelece a ordem onde a nação está ameaçada. Nesse regime Maquiavel o chama de liberdade, onde o povo é virtuoso, as instituições são estáveis e completam as dinâmicas das relações sociais e os conflitos fazem parte das relações sociais, portanto são desejáveis. Segundo o autor esse é o conceito de virtu, que é saber fazer o que é necessário no momento.


Para pensar a virtu e a fortuna mais uma vez Maquiavel recorre aos ensinamentos dos historiadores clássicos, buscando contrapô-los aos conceitos dominantes seiscentistas. Para o antigos a fortuna não era uma força maligna inexorável. Ao contrário, sua imagem era a de uma deusa boa, uma aliada potencial, cuja simpatia era importante atrair como honra, riqueza, glória e poder. Mas fazer com que a deusa da fortuna nos favorecesse e não a outros; como se tratava de uma deusa que era também mulher para atrair suas graças, era necessário mostrar-se vir o homem de verdade virilidade, de inquestionável coragem. Assim o homem que possui a virtu no mais alto grau seria beneficiado com os presentes das representações da fortuna. A força explica o fundamento do poder, porém a virtu é a chave por excelência do príncipe. Sucesso esse que tem uma medida política: a manifestação da conquista. O governo tem de se mostrar capaz de revestir aos inimigos e aos golpes da sorte. O homem de virtu deve atrair os favores da cornucópia (representação da fortuna), conseguindo assim a fama, a honra e a glória para si e a segurança para seus governados.
O jogo entre aparência e essência supõe-se a distinção tradicional entre virtudes e vícios. A virtu política exige também os vícios, assim como exige também o reenquadramento da força. Para Maquiavel o agir virtuoso é um agir como o homem e como animal - "mais vale um leão a mil ovelhas".


A política tem uma ética e uma lógica própria, Maquiavel descortina um horizonte para se pensar e fazer política que não se enquadra no tradicional moralismo piedoso. A resistência à aceitação da radicalidade em suas proporções é seguramente que dá origem ao "maquiavelismo", donde é mal interpretado e obscurece sua riqueza material.


O pensamento político moderno e crítico se faz necessário e é preciso uma releitura, sem preconceito, de sua principal obra - "O Príncipe".

Referência:

QUIRINO, Célia Galvão; SADEK, Maria Thereza (org.). O pensamento político clássico. São Paulo: Martins Fontes, 2003.