[...] não
existe uma repugnância pela desordem, nem tão pouco uma supervalorização da ordem,
mas ambas fazem parte de um processo complexo, dialógico. Esta dialógica
realizada entre essas noções do trinômio (ordem-desordem-organização), visam evitar o que Morin (1998, p.
214) chama de “pensamento caolho”.
[...] a
organização é a disposição de relações entre componentes ou indivíduos, que
produz uma unidade complexa ou sistema, dotada de qualidades desconhecidas ao
nível dos componentes ou indivíduos. A organização liga, de modo
inter-relacional, elementos ou acontecimentos ou indivíduos diversos que, a
partir daí, se tornam os componentes dum todo. Garante solidariedade e solidez
relativa a estas ligações, e, portanto garante ao sistema uma certa
possibilidade de duração apesar das perturbações aleatórias. Portanto a
organização: transforma, produz, liga, mantém (MORIN, 1977, p. 101).
Navegando pela internet,
fui checar o que se está passando em Curitiba. Imagens de policiais contendo a
desordem realizada pelos professores da rede estadual de ensino vêm a tona, bem
como a forma de “ordem” imposta pelo então governador tucano. Eleito
recentemente.
Como não conheço a realidade do dia-dia dos docentes desse município ou do estado do Paraná, arrumei uma outra forma de tentar neutralizar a argumentação partidária em cima do que está ocorrendo e que, na minha visão, está passando despercebida.
Para a minha realidade
ou, para ser mais preciso, usando o conceito de “território” em geografia, é
interessante notar que a “violência” da sociedade, e portanto, do Estado sobre
um grupo de pessoas, persiste contra os docentes. O que muda são os meios para se garantir a
tal da “ordem”. E, como tal, não é a educação; ou o contracheque, para ser
mais preciso, dos docentes; a prioridade para grande parte da sociedade.
Vejamos como a
realidade do Paraná se ajusta em Minas Gerais, independentemente de partido
político:
"Tentamos conceder aumento aos servidores,
repondo os índices da inflação. A bancada do PT e do PMDB, obviamente por ordem
do palácio, votou contra e não permitiu. Lembrando, tentamos (a Assembleia de
Minas) aqui votar o aumento para a educação, que sempre foi a bandeira da
liderança do PT nesta Casa, que os índices de aumento para a educação fossem os
mesmos concedidos pelo governo federal".
"Obviamente toda a comunidade escolar, os
professores e servidores, tinham a convicção de que agora, sim, seria o momento
desse tema (a pauta da educação) ser aprovado. O PT votou contra nesta Casa. O
PT e o PMDB". Fonte: Aqui
Na minha concepção, violência é não deixar o contracheque seguir a lógica do mercado. Assim, erros de sindicatos, planejamento
e de economia de governos pressionam os docentes a mudarem seus consumos e
hábitos. A alavancagem da disponibilização de cursos de licenciaturas tem, como
consequência, despertado grupos de indivíduos contrários da ordem da
sociedade e das "leis do mercado". É a ordem na desordem acontecendo e seu inverso... Na já conhecida organização da sociedade brasileira. "Deitada em berço esplêndido" e do "conforto", pelo menos no aspecto cognitivo, não há de sair de modo breve...
Quero encontrar professores e estudantes nas
escolas, em boas condições para se realizar bons trabalhos... Isso se chama
motivação, ainda que valha, diante de uma grande parcela da sociedade às escuras.
Referências:
MORIN,
Edgar. O Método I: A Natureza da
Natureza. 2. ed. Lisboa: Publicações Europa América,1977, 363 p.
___________.
Ciência com Consciência. 2. ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, 350 p.